Acórdãos

Tribunal de Segunda Instância

    • Data da Decisão Número Espécie Texto integral
    • 03/02/2005 6/2005 Recurso em processo penal
    • Assunto

      - Acidente de viação
      - Danos morais

      Sumário

      Na sequência de um acidente de viação, tendo-se fixado no Tribunal a quo a indemnização pelo direito à vida em MOP$800.000,00, os danos não patrimoniais da própria vítima em MOP 150.000,00, os danos não patrimoniais da esposa em MOP$300.000,00 e os danos não patrimoniais do filho em MOP$250.000,00, vistas as circunstâncias do caso concreto, entendeu-se ser de fixar respectivamente, o direito à vida em MOP$600.000,00, os danos não patrimoniais da esposa em MOP$200.000,00 e os danos não patrimoniais do filho em MOP$150.000,00, mantendo-se o decidido na parte restante.

       
      • Votação : Unanimidade
      • Relator : Dr. João A. G. Gil de Oliveira
      • Juizes adjuntos : Dr. Chan Kuong Seng
      •   Dr. Lai Kin Hong
    • Data da Decisão Número Espécie Texto integral
    • 03/02/2005 328/2004 Recurso em processo penal
    • Assunto

      – fuga à responsabilidade
      – art.° 64.° do Código da Estrada
      – taxa diária da multa
      – art.° 45.°, n.° 2, do Código Penal de Macau
      – atenuação especial da pena e seu critério material
      – art.° 66.°, n.° 1, do Código Penal de Macau
      – medida da pena
      – art.° 65.° do Código Penal de Macau
      – decurso do tempo devido à demora na dedução da acusação
      – art.° 73.°, n.° 1, do Código da Estrada
      – suspensão da licença de condução e suspensão da sua execução
      – art.° 48.° do Código Penal de Macau

      Sumário

      1. O crime de fuga à responsabilidade tipificado no art.° 64.° do Código da Estrada, com a alteração introduzida pela Lei n.° 7/96/M, de 22 de Julho, é punível com pena de prisão até um ano ou com pena de multa.

      2. A taxa diária da multa, nos termos do art.° 45.°, n.° 2, do Código Penal de Macau, é fixada exclusivamente em função da situação económica e financeira do condenado e dos seus encargos pessoais.

      3. O art.° 66.°, n.° 1, do Código Penal dispõe que o tribunal atenua especialmente a pena, para além dos casos expressamente previstos na lei, quando existirem circunstâncias anteriores ou posteriores ao crime, ou contemporâneas dele, que diminuam por forma acentuada a ilicitude do facto, a culpa do agente ou a necessidade da pena.

      4. Assim sendo, a mera verificação de alguma das circunstâncias elencadas no n.° 2 do art.° 66.° do Código Penal não implica automaticamente a sua efectiva consideração para efeitos de decisão pela atenuação especial da pena, como que com abstracção da ponderação, necessariamente a ser feita caso a caso, do grau da sua força atenuante em relação à ilicitude do facto, à culpa do agente e/ou à necessidade da pena.

      5. A despeito de o arguido ter exibido uma boa conduta anterior e posterior à prática dos factos, consistente na inexistência de antecedentes criminais, na voluntária reparação sensivelmente pronta dos danos então causados pela prática do crime de fuga à responsabilidade, na confissão integral e sem reserva dos factos, na falta de notícia de cometimento de novos crimes durante um decurso de tempo relativamente longo desde a perpetração desse delito até à data de proferimento da sentença a quo, factores todos esses reconduzíveis às circunstâncias referidas nas alíneas c) e d) do n.° 2 do art.° 66.° do Código Penal, se o mesmo arguido, de acordo com a matéria de facto dada por provada na Primeira Instância, depois de ter provocado, em altas horas da madrugada, o embate do veículo por ele conduzido nas barreiras de ferro colocadas numa curva da via pública, e mesmo que isto tenha sido na altura presenciado por um guarda policial que, por isso, se aproximou do sítio e gritou com intenção de mandar parar o mesmo veículo, ignorou esta ordem policial e continuou a fugir, fica evidenciado um grau relativamente acentuado de culpa dele no cometimento daquele crime, que constitui, desde já, um precalço para a activação da atenuação especial da pena.

      6. Ademais, todas aquelas circunstâncias favoráveis ao arguido, se lograram in casu a aplicação da multa em detrimento da pena de prisão nos termos do art.° 64.° do Código Penal, ainda não conseguem, à luz do critério material exigido na parte final do n.° 1 do art.° 66.° do mesmo Código, neutralizar, de forma acentuada, as exigências constantes e prementes de prevenção geral do crime de fuga à responsabilidade na sociedade de Macau, as quais, por isso, ditam a redobrada necessidade da pena que, como tal, tem que ser achada nos seus termos normais à luz do art.° 65.° desse Código, e já não dos seus art.°s 66.°, n.° 1, e 67.°, precisamente em prol da prevenção geral deste tipo de crime com vista à cabal protecção do respectivo bem jurídico (cfr. Também o disposto no n.° 1 do art.° 40.° do mesmo Código).

      7. Outrossim, o decurso de longo tempo desde a data dos factos até à dedução da acusação pública não tem efeito expressivamente atenuativo da pena ante o bem jurídico que se procura tutelar com a incriminação de condutas de fuga à responsabilidade, pois caso contrário bastaria uma eventual anormal demora na dedução de acusação para fazer, sem mais, atenuar especialmente a pena a caber a este crime.

      8. A duração da pena acessória de suspensão da validade da licença de condução prevista no art.° 73.°, n.° 1, do Código da Estrada, com uma moldura abstracta de um mês a dois anos, é determinada consoante a gravidade da infracção.

      9. O art.° 48.° do Código Penal se refere expressamente à pena de prisão. Contudo, e mesmo que se admita uma aplicação analógica deste preceito à pena de suspensão da validade da licença de condução em favor do arguido, não será ainda de decidir pela suspensão da execução dessa pena, se ao tribunal se afigurar que in casu a simples censura do facto e a ameaça da pena de suspensão da licença de condução não consigam realizar, de forma adequada e suficiente, a finalidade da punição a nível da protecção do bem jurídico em mira no tipo-de-ilicito da fuga à responsabilidade.

       
      • Votação : Vencido o relator
      • Relator : Dr. José Maria Dias Azedo
      • Juizes adjuntos : Dr. Chan Kuong Seng
      •   Dr. Lai Kin Hong
      • Observações :Acórdão relatado pelo Exmº 1º Adjunto Dr. Chan Kuong Seng, nos termos do nº.1 do artº 19º do R.F.T.S.I.
    • Data da Decisão Número Espécie Texto integral
    • 03/02/2005 267/2004 Recurso em processo civil e laboral
    • Assunto

      - Admissibilidade do recurso;
      - Nulidade por falta de resposta imediata aos quesitos;
      - Nulidade por falta de audiência quanto ao aspecto jurídico da causa;
      - Nulidade por falta de concretização dos fundamentos que foram decisivos para a convicção do julgador;
      - Nulidade por excesso e erro na pronúncia;
      - Do alegado erro de julgamento;
      - Valor da prova documental; documentos particulares; procuração

      Sumário

      1. Em matéria cível o recurso é admissível quando o valor da causa é de MOP 51.000,00, considerando o valor da acção e da reconvenção, tendo o recorrente decaído em ambos os pedidos formulados naquelas peças processuais.

      2. Não se pode considerar ferido de nulidade o acto de leitura de quesitos que não seja realizado imediatamente após a realização da audiência de julgamento.

      3. A parte não fica cerceada no seu direito de discussão se, finda a audiência de leitura das respostas aos quesitos da matéria de facto, é ordenado que os autos aguardem o prazo das alegações de direito nos termos previstos no artigo 657º do CPC de 61.

      4. Alguma vaguidade da fórmula geralmente tida como aceite e adoptada nos como motivadora da convicção para dar como provados alguns dos factos não deve deixar de ser articulada com os diversoa elementos constantes das actas e que ajudem a esclarecer o percurso mental que conduziu a uma dada convicção.

      5. Só os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade, assim como dos factos neles atestados com base nas percepções da entidade documentadora.

      6. Os factos que só comportam prova documental referem-se aos factos em relação aos quais a lei diz que só documentalmente podem ser comprovados.

      7. É permitido o recurso a outro tipo de prova para a interpretação de um documento particular.

      8. Não há erro de julgamento quando dos documentos juntos não resulta prova plena em relação ao pretendido pela parte, pelo que é legítimo formar a convicção com os depoimentos ouvidos em audiência.

       
      • Votação : Unanimidade
      • Relator : Dr. João A. G. Gil de Oliveira
      • Juizes adjuntos : Dr. Choi Mou Pan
      •   Dr. Lai Kin Hong
    • Data da Decisão Número Espécie Texto integral
    • 03/02/2005 14/2005 Recurso em processo penal
    • Assunto

      – juiz de instrução criminal
      – Ministério Público
      – inquérito penal
      – medida de coacção e sua aplicação
      – primeiro interrogatório judicial
      – detenção fora de flagrante delito
      – fundamentação do despacho que aplica a prisão preventiva
      – matéria fáctica fortemente indiciada

      Sumário

      1. Na fase do inquérito cujo dono é o Ministério Público, o Juiz de Instrução Criminal não se resume a uma figura meramente carimbante na aplicação de qualquer medida de coacção, já que inexiste nenhuma norma que dispõe que ele tenha que aplicar a medida coactiva nos termos exactamente promovidos pelo Ministério Público, pois uma coisa é decidir da aplicação da medida de coacção a requerimento deste Órgão Judiciário, e outra coisa, bem diferente, é decidir da aplicação ou não da medida de coacção e dos termos dessa aplicação.

      2. Por isso, desde que os autos de inquérito penal lhe sejam conclusos por decisão do Ministério Público para efeitos de aplicação de qualquer medida de coacção por este previamente promovida em relação a qualquer ou alguns arguidos sob inquérito, o Juiz de Instrução, sempre que entenda indispensável mormente para melhor descoberta da verdade material através da imediação e oralidade, bem como para poder decidir mais conscienciosamente pela imposição ou não de qualquer medida coactiva na fase do inquérito, pode ordenar, ainda que oficiosamente, a realização do primeiro interrogatório judicial, com prévia detenção fora de flagrante delito, de qualquer um dos arguidos em causa nos mesmos autos.

      3. Não há nenhuma norma processual penal que exige que no despacho de imposição da prisão preventiva o Juiz de Instrução tenha que indicar a matéria fáctica por ele tida como fortemente indiciada para efeitos da aplicação dessa medida.

       
      • Votação : Unanimidade
      • Relator : Dr. Chan Kuong Seng
      • Juizes adjuntos : Dr. João A. G. Gil de Oliveira
      •   Dr. Lai Kin Hong
    • Data da Decisão Número Espécie Texto integral
    • 03/02/2005 287/2004 Recurso contencioso (Processo administrativo de que o TSI conhece em 1ª Instância)
    • Assunto

      - Conselho Superior de Advocacia
      - Recurso contencioso
      - Agravo impróprio
      - Poder jurisdicional

      Sumário

      1. O Conselho Superior de Advocacia exerce a competência disciplinar exclusiva sobre os advogados e advogados estagiários – artigo 4º nº 2 do Estatuto dos Advogados, e da decisão por ele tomada, pode, em 10 dias após a notificação da decisão, opor-se por duas vias alternativas:
      - por via de reclamação, e da decisão desta reclamação pode-se interpor “recurso”;
      - por via directa de “recurso”.
      2. A lei manda o recurso da decisão do Conselho seguir os termos de agravo, considerando a natureza e estatuto especiais, mas isto nunca implica que a lei qualifique esse tipo do recurso como recurso jurisdicional, muito menos que ao Conselho Superior de Advocacia o Estatuto dos Advogados acima referido atribui este poder jurisdicional.
      3. Equivale então o seu acto definitivo a um acto administrativo, mas não a um acto judicial, e, o recurso deste acto não deixa de ter natureza de recurso contencioso.

       
      • Votação : Com declaração de voto
      • Relator : Dr. Choi Mou Pan
      • Juizes adjuntos : Dr. José Maria Dias Azedo
      •   Dr. Lai Kin Hong